[O Último Virtuoso] Capítulo 13 - Gran Festival - Parte II
“A justiça é a vingança do homem em
sociedade, como a vingança é a justiça do homem em estado selvagem.” Epicuro
Nesse momento eu mal conseguia sentir o meu próprio
corpo. Estava suando frio... Por quê? Acho que foi a surpresa de tê-los
encontrado antes do esperado. Eu não estou preparado! Ainda estava começando a
digerir que teria que me deparar com eles amanhã no festival e vejam como a
vida me trouxe essa “bela” surpresa! Estão a minha frente esse momento.
Bruce mudou um pouco. Parece um pouco mais alto,
porém continua magro e está com vários curativos em algumas partes do rosto e
nos dedos. Com certeza era por causa das suas partidas de tênis. Jennie
comentou algo a respeito dele só fazer isso da vida ultimamente, apesar de ter
um emprego completamente diferente. Aquele ar bobalhão parecia camuflado na
figura de um homem durão. Ele usava uma jaqueta estilo tenista, só que de couro
e em seu olhar percebo que aquela pureza dos tempos antigos havia desaparecido.
É como se eu estivesse olhando pra outra pessoa.
Um pouco mais atrás vejo a figura de uma mulher
vestida por um terno feminino preto, saia e sapatos de salto alto roxos. Ela
estava usando óculos e notei que seus peitos pareciam maiores ainda. Essa era
Bianchi. Era a única que realmente demonstrava surpresa ao me ver. Acho que assim
como eu, não esperava esse encontro. Me doía o coração vê-la ali... E sim...
Daquele grupo é a que tinha desenvolvido mais carinho. Cinco anos se passaram e
ela nem me procurou... Talvez seja como Jennie disse, talvez seja como o
próprio Phillip disse. Ela está do lado dele e não do meu.
Ao fundo vejo um rapaz de cabelos lisos e magro
vestindo um terno elegante. Eu não iria deixar de reconhecê-lo em lugar algum.
Era Phillip! Sua aparência parecia ter decaído e ele não tinha um fio de barba
na cara. O crápula se mostrava nada surpreso e faz uma expressão de
indiferença. Porém eu não era bobo e consegui observar que até aquilo era
mentira. Ele de fato não conseguia mais me enganar.
Após esse minuto de silêncio, Bruce retoma a
comunicação:
— Hey moço! Não vai falar com a
gente não?
—
E por que eu deveria? — rebato.
— Você sumiu por cinco anos! —
comenta Bruce enquanto ficava balançando sua raquete — Se bem que eu sempre
disse pra Bianchi que um dia você ia aparecer. Eu estava certo! O que anda
fazendo da vida?
— Bruce... Acho que esse não é o tipo
de pergunta que você deva fazer a ele — responde o demônio de terno.
É nesse momento que eu tento
encará-lo pela primeira vez. Porém ele desviava seus olhos dos meus o tempo
inteiro. Esse safado sabe dos meus poderes e estava evitando que eu usasse nele,
certeza! Bianchi não havia sequer pronunciado uma palavra ainda.
— Bruce... O que seu amigo quer que
você me pergunte? Aliás... É tão covarde... Por que não vem fazer a pergunta
você mesmo? Lixo! — o chamo assim sem a menor preocupação.
— Nossa, quanta agressividade! Estou
há duas semanas aqui nessa cidade e já me acostumando. Não acabe com a minha
diversão por causa das suas frustrações... Aliás, é o que você mais costuma
fazer, não é? — alfineta.
— Frustrações? — fecho meu punho
direito — Do que diabos você está falando?
— Eu é que não entendo e nem sei o
que você quer dizer... — se faz de desentendido.
Eu realmente não estava nada
surpreso. Cinco anos se passaram e aquele garoto imaturo que adorava se fazer
de desentendido pra não resolver problema algum estava na minha frente. Era a
mesma pessoa!
— Que cara é essa, Leo? Não entendo
o porquê disso — comenta Phillip.
De repente Bianchi o segura pelo
braço e ouço suas primeiras palavras após cinco anos:
— Já chega disso! Vamos embora
agora!
— Ok — responde o hipócrita.
Bruce acena pra mim e diz que nos
veríamos amanhã. Não respondo. Phillip mal olha e Bianchi passa do meu lado de
cabeça baixa. Ela diz bem baixinho:
— Sinto muito... Tchau!
Observo aqueles três seguirem em frente. E sabe o
que mais me deixou intrigado? O local de onde eles vieram. Eles com certeza
estavam no submundo... Um detalhe minucioso que provavelmente eles tenham
achado que não percebi. Que cena... Que
sensação! A minha vontade era de matar aquele cretino ali agora. Não sei como
consegui me controlar. Ele agiu como se nada tivesse acontecido... Não consegui
dizer nada! Absolutamente nada do que deveria! E eu não sou o maluco. Ele é um
falso e mentiroso! Por que tenho que aguentar isso? Depois de tudo o que passei
ainda tenho que engolir esse cara aqui outra vez inserido na minha vida? Não...
Isso ia acabar... Eu mesmo vou tratar de dar um fim nesse pedaço de lixo! É
hora de fazer justiça com as minhas próprias mãos.
Naquela noite, liguei para Lucas e Marky. Eles
percebem o meu tom altamente nervoso. Eu não estava nada bem depois do pequeno
encontro desagradável. Apenas digo três frases:
— É amanhã... Aquele plano... Se preparem!
Não dormi direito aquela noite e no outro dia foi
uma correria sem limites com o evento. Não falarei muito sobre isso. Prefiro ir
direto ao ponto. Desde que essa história começou, estou ansioso por esse
momento. É hora de dar a volta por cima. É a minha virada triunfal! Ou pelo
menos eu esperava que fosse...
Chego ao festival e noto como estava cheio. Já
estava em cima da hora e corro para apresentar o projeto. Passo “voando” pelos
bastidores e como num passe de mágica apareço no palco em frente à grande
maquete. As luzes e os holofotes estavam todos em minha direção. Senti meu
coração palpitar forte. Aquela noite prometia e esse era o menor dos desafios.
Respirei fundo e apresentei a todos aquele projeto. Incrível como consegui
fazer isso apesar de tudo! Estava orgulhoso de mim nesse momento. Recebi vários
aplausos ao final. Quem diria... Mas uma vez eu ouvi isso de alguém: “A
multidão que aplaude o seu coroamento é a mesma que aplaude a sua decapitação.
As pessoas gostam de show.” Isso não me confortava muito, apesar de eu nem ter
ideia do que estava por vir.
Encontro Amanda no meio do evento. Estava linda!
Usava um vestido branco e seus cabelos estavam muito bem arrumados. Não entendo
muito bem o nome dessas coisas que mulheres fazem no cabelo, logo minha opinião
é a de que ela estava bonita e ponto.
— Finalmente! Depois de tanto trabalho. Parabéns! —
comenta Amanda entusiasmada e me abraça.
— Obrigado... Ainda bem que deu tudo
certo...
— Leo, tem algo com você? Está com
um olhar estranho...
Sinto uma mulher me agarras pelas
costas.
— Honey! Parabéns delícia! Estou tão feliz e tenho certeza que fiz a
escolha certa ao deixar em suas mãos!
Anne também, muito bem vestida e
bonita foi a pessoa quem disse isso. Mulheres têm um dom de passar por uma
transformação em dias de festa. As de hoje estavam me surpreendendo, hein.
— Amanda e James me ajudaram muito
também. Não fiz o trabalho todo sozinho.
— Já recebi mensagens de que estão
todos aprovando as maquetes e plantas do projeto. O nosso salão de multi
eventos será construído! — levantava os braços pra cima e comemorava.
Anne parecia tão feliz. Já eu, não
esboçava muitas reações. James nos encontra dentro do evento e me parabeniza com
um forte abraço. Amanda e ele já começam a trocar farpas. Esses dois... De
repente, alguém se aproxima. A única coisa que vejo é uma mão segurar a minha e
apertar sem parar. Era um senhor de face muito alegre que me parabenizava.
— Você foi o arquiteto responsável
por aquele projeto fantástico? Meus parabéns! Você tem talento rapaz. Minha
empresa fez um excelente investimento, não é James?
— Com certeza, senhor Vincent! Leo é
muito competente e mesmo que eu estivesse receoso no começo, vi que ele sabe
como trabalhar.
Aquele era Regis Vincent, o dono da
Soldi & Successo. Ele é chamado até o palco e dá as suas palavras. Fala bastante
e elogia o meu projeto, a empresa e todos os funcionários. Regis tinha uma boa
oratória. Até ali tudo bem... Porém, o inesperado acontece. Ele chama alguém ao
palco e diz que daria as palavras a ele. Meus olhos não acreditavam no que
viam... Phillip estava todo sorridente enquanto caminhava pelo palco e toma a
palavra. Observo e vejo Bianchi e Bruce por ali. Uma sensação ruim começa a vir
dentro de mim. Aquele festival... Ali seria o estopim!
— Boa noite a todos! Sou Phillip
Neddfor, o futuro vice-presidente da maravilhosa Soldi & Successo. Agradeço
ao Regis pelas grandes oportunidades e pelo que tem sido pra mim — pisca — Não
sei se sabem, mas também me formei em arquitetura e aprecio esse belo
projeto... Feito por alguém tão competente e que já estudou comigo.
— O que esse cara tá fazendo ali?
Nada disso estava no cronograma — comenta James irritado.
— Eu também não estou entendendo
nada — diz Amanda.
— Ele está querendo fazer o show
dele... Certeza... — respondo e respiro fundo, pois sabia que o pior ainda
estava por vir.
— Uma pessoa que, aliás, parece tão
diferente de quem era no passado... O grande — diz com ironia — arquiteto Leo
Cavallini. Quem imaginaria que esse rapaz chegaria até aqui, não é?
— Ele não vai... Não... Eu não estou
acreditando nisso — diz Bianchi para Bruce que não entende nada.
— É surpreendente ver a evolução do
ser humano. Ou seria ambição? Um rapaz cheio de problemas que adorava descontar
suas frustrações culpando os outros. Que lamentável... Internado em um
sanatório por meses por ser o principal suspeito da misteriosa morte da própria
mãe. Que chocante! E ainda guarda dons perigosos... Quantas facetas esse jovem
arquiteto esconde juntamente a suas habilidades, não é mesmo? E chegou até
aqui... Vejam como o mundo dá voltas, não é mesmo?
As pessoas expressam espanto e
começam a comentar a respeito. Alguns olhavam para mim com cara de
desconfiança. Escuto várias vozes dentro de mim e aquilo me atormentava. Quando
menos percebi, estava levando a mim mesmo pra fora daquele lugar. Phillip
agradece a palavra e diz a todos para curtirem o evento. Bianchi mostra
descontentamento com a atitude do amigo e não o cumprimenta. Bruce vai atrás da
garota e Regis pergunta a ele se todas aquelas acusações são verdadeiras. Phillip
confirma.
— Mesmo? Eu me lembro desse caso,
mas não imaginava que era ele — diz Regis surpreso.
— Ele tem uma obsessão comigo.
Aliás, não deve ter falado a vocês que já foi apaixonado por mim. Ficou triste
porque o rejeitei e agora fica inventando calúnias ao meu respeito. Vejam que
absurdo! Aliás, se ele contar alguma coisa pra você, não acredite. É tudo
loucura dele! — suspira — Não pedi pra ter pessoas estranhas assim passando
pela minha vida...
— Acho que as coisas não são bem
assim — responde James se aproximando dos dois — Ele não inventaria histórias
ao seu respeito ainda mais envolvendo algo tão sério. Será que dói você admitir
a verdade, Phillip Neddfor?
— James! O que está insinuando? —
pergunta Regis — Está ajudando aquele rapaz a inventar calúnias sobre o meu
Phil? Isso eu não posso permitir.
— Não, estou apenas defendendo a
verdade. Você não me engana também, futuro vice-presidente. Você o expôs de
forma absurda aqui hoje. Se me dão licença, estou indo atrás dele.
James se retira. Amanda olha para Phillip
com cara de quem chupou limão azedo.
— Cara feia pra mim é fome, querida.
Se eu fosse você, acreditaria no que estou dizendo. Aquele cara ainda pode
matar um de vocês — diz Phillip.
Amanda não diz absolutamente nada e
vai atrás de James. Ela também estava preocupada com Leo. Regis acaba se
encontrando com um amigo e os dois começam a conversar. Phillip vai até Bruce e
Bianchi. Os dois estavam sentados em uma mesa onde já havia vários copos
vazios.
— O que é isso? — pergunta Phillip
surpreso.
— Ela tá bebendo sem parar! Eu sei
que ela é bem forte, mas tá exagerando. Já falei, mas não adianta.
— Você é um babaca... Com quem pensa
que está brincando? — pergunta Bianchi.
— Com ninguém... Só disse o que
tinha de ser dito!
— Fala sério — pega outro copo de
bebida e vir de uma vez.
— Você nos disse que ele era uma
pessoa perigosa... Será mesmo? — questiona Bruce.
— E é... Eu disse tudo a todos e vocês
sabem que ele é um virtuoso. É um ser altamente perigoso e que pode nos matar.
Precisamos ficar atentos.
— Não sei se ele mataria a mim ou o
Bruce. Já você... Porque né — alfineta Bianchi.
— Uma moça tão linda e bebendo
assim... — comenta Bruce.
— E daí? Não estou querendo agradar
ninguém mesmo e muito menos você, obrigada! — responde Bianchi.
— Hoje você está bem difícil hein,
Bianchi — começa a passar a mão no braço dela — Que tal tomarmos o rumo de casa
e assistirmos a um filme juntos? Ou aquele jogo de tênis que já vi mil vezes,
porém não me importo de ver outra vez. Vamos sair dessa festa chata.
— Não estou a fim! — dá um soco no
braço do tenista — Agora quero beber um pouco. É tanta dor de cabeça... E olha
o que esse outro imbecil ainda arruma. Abre a boca pra ficar falando esse tipo
de coisa aqui. Depois não reclama. Te falo isso desde a época da faculdade e
você nunca me escuta, capeta!
— Ah... Sei lá...
— Por que faz isso com o cara? Será
que aquilo de cinco anos atrás já não foi suficiente? — vira outro copo de
cerveja.
— Porque ele é ele... É perigoso e
eu sei a loucura que tive de aguentar naquela época. Ele tem que ser detido!
— O que está dizendo, Phillip? —
pergunta Bruce — Você não disse que ele te ameaçou? Não estou mais entendendo
nada aqui.
— Bruce... Continue sem entender.
Lembra daquelas ligações e da sua irmã? Se não cumprir sua missão, vão acabar
com ela... E infelizmente não posso fazer nada...
— Não! — derruba a cadeira no chão —
Não vou permitir que toquem em um fio de cabelo dela!
— Então temos que cumprir nossa
missão e fazer um bem à humanidade. Assim eles disseram que vão liberá-la.
Tenha calma.
— Caco de vidro... — diz Bianchi
baixinho enquanto empurrava mais um gole de cerveja goela abaixo.
James e Amanda me procuravam por
todo o evento e não me encontraram. Os dois tentam me ligar no celular e estava
fora de área. Eles realmente não iam me encontrar àquela hora. Aliás, demoraria
um pouco pra me verem novamente...
Bianchi continuava bebendo e Bruce
tentava aproveitar a situação para conquistá-la. Nos tempos de faculdade os
dois tinham “climas” e “não climas”. Eu não sei exatamente o que aconteceu
durante cinco anos, mas ela não parecia muito a fim dele não.
— Você não era assim nos tempo da
faculdade...
— Não estamos mais na faculdade fofo
— responde curta e grossa.
— Moça, me dá uma chance! Éramos um
casal com tanto clima naquela época.
— Jura? Lembro bem de você vir
chorar mágoas da sua queridinha estrela o tempo inteiro. Se toca caipira lento.
Não quero saber mais!
— Aquilo foi passado... — segura o
queixo dela — Vamos pensar em nosso futuro agora.
— Muito devagar e me dá tempo demais
pra pensar... Não curto homens assim — se levanta — Vou ao banheiro e já volto.
— Capaz que você volta logo...
O celular de Phillip começa a tocar.
Ele atende e faz uma cara nada agradável. Bruce pergunta o que era. Ele diz que
precisava ir até a sua sala no escritório filial buscar um documento urgente
para entregar ao Regis.
— Não quer que eu ou a Bianchi vá
buscar?
— Vocês não vão saber onde está... —
suspira — Que preguiça! Vou ter mesmo que ir até lá... O rapaz disse que o
Regis já me reservou um motorista, já que a Bianchi está bebendo. Vou indo lá e
já volto. Avise-a e esperem por mim.
Phillip vai até a porta de entrada e
vê um carro o esperando. Ele entra e a motorista mal o cumprimenta. No caminho
ele diz que precisava chegar o mais rápido possível, pois o documento era
importante e precisava ser entregue.
— Então... Quer que eu acelere mais?
Vai ser um prazer...
A motorista faz o carro “voar” de
tão rápido e o homem pede a ela que diminuísse a velocidade. Logo chegam à
porta da frente da empresa e ele reclama.
— Que motorista me enviaram hein!
Preferia até o Bruce dirigindo a você... Ai que saco depender de vocês. Se eu
pudesse pegava o meu carro e tinha vindo!
— Tenha uma boa noite... Senhor
Phillip Neddfor — a mulher tira o chapéu e revela seus cabelos roxos repicados —
Vai precisar...
No evento, Bianchi volta do banheiro
e pergunta à Bruce onde Phillip estava. Ele explica a história a ela rapidamente
raciocina e diz que precisavam ir atrás dele naquele exato momento. Bruce não
entende nada, mas a acompanha.
Phillip entra e passa por um
segurança baixo. Ele mal vê seu rosto e diz que estava indo na sala dele buscar
um documento. O segurança sorri e diz que era só seguir o caminho de sempre.
Phillip acha estranho o local estar tão vazio e abre a porta da sua sala. Tudo
estava escuro e ele aperta o interruptor. De repente, sua cadeira vira e
adivinhem quem estava sentado esperando pela chegada dele? Eu!
— Demorou pra chegar hein, pedaço de
lixo!
— O que você está fazendo aqui? —
tenta abrir a porta e percebe que ela foi trancada por fora.
— O que estou fazendo aqui? O que
acha? Hoje a noite é só nossa, Phil — o chamo assim ironicamente.
— Eu não sei e nem estou muito
interessado — tenta acionar o controle de emergência para chamar a segurança.
— Ah, esse controle. Olha, não sei
se percebeu, mas hoje a noite só tem um segurança nessa espelunca e eu posso
dizer que o conheço melhor que você. Ele só vai abrir a porta quando eu quiser.
— Você... A motorista... O segurança...
A ligação...
— Palmas pra você — me levanto —
Acho que agora a ficha caiu né.
— Tudo isso é armação! O que você
quer de mim? — pega o celular.
Rapidamente tomo o celular de sua
mão e o destruo usando a força da mão direita. Ao invés de se tocar e calar a
boca, começa a falar:
— Será que já
não está satisfeito? Olha só, um arquiteto aplaudido e que provavelmente vai
ganhar bastante dinheiro e até um prêmio pelo projeto que fez e...
— Projeto fantástico que você
arruinou com seu discurso de merda hoje! Por acaso pensa que eu sou uma criança
e não entendo o que você fez? O que você pensa que está fazendo a essa altura
do campeonato — empurro-o na parede — Essa é a noite onde eu vou começar a
acertar as contas com você. E olha que você me deve hein... Os juros se
acumularam monstruosamente.
— Me larga, seu monstro!
— Monstro? Como é? Quem foi que
fingiu ser meu amigo por um bom tempo, hein? — dou um soco certeiro em sua face
— Quem foi que me desprezou inúmeras vezes e me menosprezou pra aumentar o
próprio ego? — dou outro soco e vejo sangue começar a escorrer pelos lábios do
idiota.
— Eu não sei do que está falando! —
tenta me conter, mas não consegue.
— Quero saber quem tentou me matar
várias vezes, hein? — dou um chute forte — E quem foi o monstro que mentia pra
mim o tempo inteiro? Quem me usou? Quem? Quem foi o monstro que acabou com meus
bons sentimentos e desprezou todos eles? Quem foi caralho? — faço essa última
pergunta com um tom elevado e dou outro soco na face do canalha — Abre essa sua
boca agora, ou ela só serve pra mentir e chupar a rola de quem você engana?
Ahn?
— Cala a boca... Você é louco! Eu
não sei de nada do que está falando — tente procurar algo nos bolsos e fica
chocado ao sair com a mão cortada e molhada.
— Tava querendo pegar o quê? SHINOHANA igual sua amiguinha Marcella e
o Raihr, que você enviou pra acabar comigo? Que peninha ela ter se quebrado com
a pancadinha que eu te dei, Phil. Acho incrível a sua habilidade de querer
destruir todo mundo... Você faz isso por ter inveja da felicidade alheia... Já
que é uma pessoa totalmente infeliz.
— Cala a boca, psicopata... —
responde irritado — Até hoje não entendo como acreditaram em você e te tiraram
daquele sanatório!
— Carapuça serviu né? Aliás, falando
em sanatório... Bem lembrado... Vamos lembrar quais foram os motivos de eu ter
ido parar lá... Vamos? Depois de
acabarmos com aquela “relação” ridícula, deixei de falar com você e me
afastei... O “adorável Phil” armou uma emboscada pra se livrar de mim, ou pensa
que me esqueci de você, rapaz do capuz! E ao chegar ao meu apartamento vejo
minha mãe morta...
— Morreu porque você a matou...
O meu sangue ferve ao ponto de evaporar.
Aquele lixo de pessoa realmente não media o que dizia. Dou fortes socos na cara
e na barriga dele e o jogo em cima da mesa. Ele estava fraco e mal conseguia
ficar de pé.
— Eu não matei ninguém... Ainda
não... Mas você será o primeiro — dou uma risadinha.
— Natureza assassina... Esse é
você... Vai parar num sanatório outra vez pra aprender... Desejo tudo de pior
pra você...
— Ah é mesmo? Agora você... — o puxo
pelo cabelo e nossos olhares se cruzam — Você vai voltar pra onde veio... Pro
inferno!
De repente a porta se abre e surgem
Bianchi e Bruce. Phillip sorri e diz que agora estaria salvo. Os quatro não
fazem absolutamente nada e isso o surpreende.
— Vocês não vão fazer nada? Olhem
pro meu estado! Vejam o que esse psicopata está fazendo! Ele vai me matar!
— E por que deveríamos fazer algo? —
pergunta Bianchi.
— Você plantou tudo isso... Agora
sofra as conseqüências! — diz Bruce.
— Vocês dois estão me traindo? Que
absurdo é esse? Pra onde pensam que esse louco vai me mandar?
— Direto pro inferno, Phillip. Pro
inferno. Vá pro inferno! — a voz de Bianchi, Bruce e a minha começam a ecoar
por toda a sala e todos os vidros se quebram atingindo-o.
— Sente dor pelos cortes dos cacos
de vidro? Esse é você... É isso o que eu senti vivendo com você! Caco de vidro!
Caco de vidro!
Phillip se desespera e ao tentar
levantar sente o corpo fraco e cai no chão. Enquanto isso nossas vozes o
chamando de ‘caco de vidro’ ecoavam pela sala. Ele estava desesperado e de
repente escuta o estalar dos dedos. Ao abrir os olhos, estava em cima da mesa.
— Isso foi um sonho... Quase pensei
que fosse verdade... Conseguiu mesmo usar seu olhar em mim, virtuoso — ofegante
— Bianchi e Bruce devem estar chegando. Ainda bem!
Ele se levanta e percebe que estava
machucado de verdade.
— Porra! Eu estou mesmo machucado e
aquele assassino não está aqui... A parte inicial foi de verdade... Preciso
sair daqui agora.
Ele vê um bilhete escrito na mesa
com o aviso “Isso foi apenas o começo... Se eu fosse você se apressava e sairia
logo. As coisas podem ficar bem... QUENTES... para o seu lado.”
— Não pode ser!
Esse momento deve ser registrado em "câmera lenta". Marky e Lucas me esperavam lá fora. Eu saía caminhando
lentamente, triunfante. Meus olhos estavam completamente avermelhados... Estava
no ápice do sentimento de vingança. Tava mais pro vilão realizando sua maior
maldade ao mocinho da história... Como uma catástrofe natural que vem quando a
gente menos espera, a sala daquele monstro explode e chamas “dançam” ao redor
daquele local. Essa explosão era o cenário de fundo da minha bela caminhada até
o carro.
[CONTINUA...]